sábado, 31 de janeiro de 2009

Chuva, raios, trovões, velas e causos

Tudo começou numa pizzada na casa de meus avós.
E a pizzada começou numa brincadeira, mas como levamos a sério, a pizza acabou virando realidade.
Não chovia quando eu cheguei. O sol derretia o asfalto.
Conversamos muito pois naquela casa muito se conversa. Se não conversar, logo alguém vai achar que você não está bem.
Pedimos a pizza, a pizza veio, comemos e sempre conversando muito.
Sobre economia, pedofilia, política, saúde, os nossos cachorros, os cachorros dos outros, o clima, a pizza, a família, os amigos e haja pizza pra tanta conversa!
Certa hora, quando começamos a falar da economia brasileira, raios e trovões iluminaram os céus e povoaram nossos ouvidos.
Em obediência à força superior, nos calamos e, imediatamente, trocamos de assunto: segurança pública brasileira.
Não adiantou. Novos raios e trovões, agora ainda mais fortes estremeceram os vidros da casa.
Mas como desta vez não nos calamos e seguimos no assunto bravamente, veio o castigo maior: nada de energia elétrica!
Daí começa a parte boa!
Corre pra lá, corre pra cá, "onde tem vela?", "eu sei onde estão os fósforos", "vem aqui, me ajuda com a luz do seu celular!", "ué? eu tinha colocado as velas aqui"...
Pronto. Velas acesas.
Silêncio.
Relâmpagos e trovões ainda bailavam no céu. Mas estávamos mudos.
Até que alguém se rende à força e magia da luz das velas e começa:
- Quando eu era criança, a gente fazia tudo com essa luz assim. Lia revista de noite com vela escondido do pai. Quando o pai deixava a gente usava lamparina que tinha luz mais forte.
Bastou isso para que ninguém mais se escondesse e começasse a se interessar por contar causos e histórias e estórias.
Horas e horas e horas sob a luz das velas, conversando, contando, ouvindo, aprendendo...
Definitivamente, muita televisão acaba com as conversas boas!

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Curiosidades - Meio-Teclado

Estava eu aqui, nesta segunda-feira, lendo, estudando, trabalhando... até que parei para um descanso mental e encontrei uma invenção!
Ah, mas são tantas as invenções, não é?
E quando a gente acha que não há mais nada para ser inventado, alguém vai lá e inventa.
O que acabei de ver foi um "meio-teclado".
Isso mesmo.
Mas não é porque é metade um teclado e metade outra coisa, ele é mesmo só a metade de um teclado.
Tudo bem, e como funciona isso?
Para ter acesso às teclas da outra metade do teclado, basta manter a barra de espaço pressionada enquanto estiver digitando e, automaticamente, o teclado compreende que você está querendo digitar qualquer coisa da outra metade.
Lindo! Muito lindo! He,he,he,he! A outra mão fica livre-livre pra usar o mouse, segurar uma xícara, segurar o telefone, coçar a orelha ou seja lá o que você quiser fazer com a outra mão!
Já está sendo comercializado, como podem verificar no site:

http://matias.ca/halfkeyboard/index.php

Neste site também tem um simulador desse teclado pra vocês verem que, pra quem sabe direitinho as posições das teclas, essa invenção realmente pode ser muito útil. Experimentem!
Então, o que acham da idéia?


sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Aperto

A gente passa tudo quanto é aperto.
Aperta na barriga da mãe antes de nascer.
Aperta na escola por causa da chamada oral.
Aperta no coração quando a gente vê aquele primeiro amor da infância.
Aperta quando a gente acha que nossos pais são um saco que só sabem nos prender e não entendem nada da vida e muito menos da gente.
Aperta quando a gente faz a coisa errada e não tem coragem de contar pros pais.
Aperta quando a gente vê um amigão nosso, ou uma amigona também, passando por aperto e a gente não consegue ajudar.
Aperta no trabalho por causa do chefe ou de algum puxa-saco.
Aperta na faculdade por causa das notas, dos trabalhos que a gente não tem tempo pra fazer e do estágio que é um saco.
Aperta porque o presidente mais viaja do que se importa com a economia do país.
Aperta só de pensar que a gente pode deixar de conviver com algum de nossos velhinhos: pais, avós ou amigos.
Aperta quando a gente tenta ajudar e a pessoa insiste no erro. E quando erra ainda briga com a gente porque a gente não avisou!
Aperta quando o namorado (ou namorada, marido, esposa, namorido, amigorada...) não quer entender o nosso lado.
Aperta quando a gente sente falta de ar no centro da cidade e fica pensando no futuro dos nossos filhos e netos e bisnetos...
Aperta quando o carro quebra bem no final-de-semana que a gente ia viajar e passou meses planejando a viagem.
Aperta quando a gente vê alguém pedindo carona no meio da noite e não tem coragem de parar por medo da violência.
Aperta quando a gente chega cansado em casa, liga a TV e vê um caso de maus tratos aos idosos.
Aperta quando sabemos que comunidades inteiras sobrevivem às custas de drogas e armamentos, envolvendo crianças nas negociações.
Aperta quando a gente acha que fez tudo certo e vem alguém com um balde d'água fria enorme.
Aperta saber que tem pais que vendem os filhos pra poder comprar comida.
Aperta... volta e meia, aperta.
Mas só aperta quando a gente quer acertar, quando a gente se importa, quando a gente quer melhorar.
Se a gente não quiser, não se importar, não vai apertar, vai simplesmente passar, não vai se destacar, vai ser só mais um fato que, talvez, a gente nem note, nem lembre amanhã.
Quando aperta a gente se sente inquieto, dá vontade de fazer, de sair atrás, de corrigir.
Eu prefiro que aperte.
Mas nem tanto.
Nem com tanta freqüência.
E a gente pode fazer nossa parte pra aliviar o aperto.

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Novo Acordo Ortográfico - Dicas Rápidas

Concordando ou não. Aprovando ou não. Ele foi assinado. E temos até 2012 para utilizá-lo.
Para evitar entrar em discussão sobre todas as discordâncias que há neste Novo Acordo Ortográfico, montei uma lista rápida do que mudou.
É uma coisa simples, direta e objetiva.

Alfabeto : nosso alfabeto é formado por 26 letras.
Antes: 23 letras
Agora: k, y, w foram adicionados e deverão ser utilizados em siglas, símbolos, nomes próprios, palavras estrangeiras e seus derivados. Exemplos: km, watt, Byron, byroniano

Acento Circunflexo: não se utiliza em palavras terminadas em "ôo(s)" e "êem".
Antes: vôo, dêem
Agora: voo, deem

Acento Agudo: não se utiliza em ditongos abertos "éi" e "ói" de palavras paroxítonas.
Antes: geléia, jóia
Agora: geleia, joia

Acento Diferencial 1: não se utiliza para diferenciar pares.
Exemplos: pára/para, pêlo/pelo, pólo/polo, etc.

Acento Diferencial 2: utiliza-se para diferenciar plural de singular.
Exemplo: têm/tem

Acento Diferencial 3: utiliza-se em pôde/pode, pôr/por e fôrma/forma.

Hífen 1: não se utiliza quando o prefixo termina em vogal diferente da vogal com que se inicia o segundo termo.
Antes: aero-espacial, auto-escola
Agora: aeroespacial, autoescola

Hífen 2: não se utiliza quando o prefixo termina em vogal e o segundo elemento se inicia com "r" ou "s".
Antes: contra-regra, mini-saia
Agora: contrarregra, minissaia

Trema: não se utiliza.
Antes: lingüiça.
Agora: linguiça.

Como eu disse, isso é um resumão. Não são somente essas as alterações que foram realizadas, mas estas auxiliam bastante em nossa rotina. Podemos nos adaptar aos poucos, afinal, temos até 2012.
Espero que isto ajude a esclarecer alguma coisa.

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Crianças

Eita coragem!
Nascemos sem dente, carecas, sem falar, pelados... e mesmo assim, nascemos!
A gente chega berrando ao mundo:
- É isso aí, eu cheguei! Tô aqui! Tá ouvindo!?!? Aqui!!!
E enchemos os pulmões novamente e berramos ainda mais!!
- E agora que cheguei, vocês vão ter que me aguentar!!
Cômico isso, cômico. Interessante também. Mas acima de tudo, corajoso.
Desconsiderando o lado espiritual, vamos analisar a situação somente no instante do nascimento: nascemos de pessoas que a gente não conhece, que conhecem mais pessoas que a gente não conhece, mas que são nossa família.
É... e a gente mete as caras mesmo assim.
E pra andar? De onde vem a vontade de andar depois de tombos e tombos com aquela fralda que deixa a gente com a bunda do tamanho do mundo? É, mas a gente põe um sorriso na cara, dá um gritinho pra acordar as células e se levanta e tenta andar de novo.
Os gritinhos, de tanto gritados um dia viram palavras. Erradas, babadas, cortadas, inventadas, mas a gente aprende a falar!
E o que mais a gente sabe fazer?
Andar de bicicleta, comer, escolher a cor da nossa calcinha, o tecido do lençol, o caminho da escola, do trabalho, dirigir, respirar, escrever, desenhar, conversar, desejar, reprimir, calcular impostos, se revoltar com a política, preferir tomar banho de chuva, se enxugar depois ... dá pra passar dias escrevendo tudo o que a gente sabe fazer.
Mas por mais que você negue, por mais que não consiga concordar: a gente só aprende quando perde o medo.
Quando a gente perde o medo de mudar, quando a gente perde o medo de sair da nossa zona de conforto, quando a gente perde o medo de passar vergonha, quando a gente perde o medo de perguntar.
E tem outra coisa: quando a gente aprende o gosto do "arriscar" e do "conquistar".
Ah! Aí não tem pra ninguém! Ninguém segura! É bom, não é!? Ver a casa pronta, sentir os cabelos ao vento, voar de asa delta, ir à formatura do filho... cara... valeu o esforço, não valeu!?
Sejamos mais crianças! Alimentemos a criança que temos em nós!

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

Herança

Não é sobre bens, datas ou inventários.
Mas é sobre família.
Quanto dela temos em nós?
O jeito de andar, de falar, as idéias, os gostos... nós somos o que nossa família nos ensina a ser. Nós somos o que vemos nossa família fazer.
Nós tomamos pra nós os sonhos que nossa família tem e não consegue realizar.
E família não é somente quem tem o mesmo sangue que a gente.
Família são as pessoas com quem nos importamos.
Sabe aquela mania de olhar pro céu quando você está de saco cheio pra buscar refúgio? É sua mania ou você aprendeu com alguém?
A gente absorve. A gente não é único. A gente é coletâneo. Somos uma coletânea de todas as pessoas que já passaram por nossas vidas.
A herança, a mais importante herança, é essa. Essa que deixa verdadeiras marcas, verdadeiros sorrisos, essa que nos ajuda de verdade.
E a nossa responsabilidade? Sim! Responsabilidade.
Se a gente aprende com os outros, os outros aprendem com a gente, não é?
Todos aprendemos com todos. E é bom lembrarmos que aprendemos muito mais praticando do que ouvindo alguém falar.
A herança está nos atos. Nos nossos atos.
Não resolve nada nos perguntarmos o que deixaremos para as gerações futuras. Podemos saber o que deixaremos para as gerações futuras.
A herança da nossa família depende de nós.

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Gracie Allen

"When I was born I was so surprised I didn't talk for a year and a half."
"Quando nasci fiquei tão surpresa que não falei por um ano e meio."

Eu levei menos tempo, a minha geração levou menos tempo pra falar do que a geração da Gracie Allen, que nasceu em 1906. A geração atual leva menos tempo do que eu levei.
Mas a pergunta que não quer calar: qual o valor disso?
Qual o valor do que falamos? É ponderável? É útil? Algum dia será lembrado? Será útil?
Se pra falar a Humanidade está levando menos tempo, como fica o item surpresa?
Como estamos nos surpreendendo?
Bala perdida não surpreende mais.
Bebês encontrados em meio ao lixo não surpreendem mais.
Guerras que parecem infinitas, como as do Oriente Médio, não surpreendem mais.
Impostos abusivos, taxas de juros altas, queda de bolsas de valores... não surpreendem mais.
O buraco da camada de ozônio, o derretimento das geleiras, a extinção de espécies da fauna e da flora deste planetinha não, isso não nos surpreende mais.
Vira e mexe um desses assuntos é manchete de jornal, assunto nos telejornais, mas se tornam banais. Nos sentamos no sofá confortável de nossa sala pra assistir que o cessar fogo não foi obedecido e milhares de civis já foram mortos. Desligamos a televisão e dormimos. Como crianças. Sem preocupações.
Eu me surpreendo. Me indigno. Me ponho a pensar a todo instante, olhando pra esse céu azul brasileiríssimo sobre minha cabeça, se não poderíamos fazer algo.
Porque, afinal de contas, eu me surpreendo com esse azul, com essa brisa que refresca os 39ºC que fazem agora neste quarto.
Ficarei feliz se passar o restante da minha vidinha muda, de surpresa, mudinha da Silva.
E muito, muito mais feliz se minhas mãos não pararem de me ajudar a me indignar menos.