terça-feira, 12 de agosto de 2014

Vai...

Se não tem educação pública decente Paga os olhos da cara por uma mais ou menos "é o melhor que tem pra gente" Se a saúde pública é vergonhosa pega fila de horas marca consulta pro ano que vem ou paga caro em assistência que te enrola também Se a segurança é insegura ou mesmo inexistente o negócio é se trancar não sair mais deixar de viver pra se proteger "continuar vivo é importante ainda que seja agoniante" Se o transporte público é insuficiente incompetente financia um carro em sessenta meses perde horas por dia e se acha esperto Se não tem em quem votar vota mesmo assim a gente é obrigado "mas em quem vou votar?!" a mesma trupe se reveza desde que o mundo nasceu famílias nos tronos em democracias declaradas e repressão espalhada Se não tem em quem votar vota mesmo assim a gente é obrigado "mas em quem vou votar?!" quem é menos pior ou desconhecido ganha chances inesperadas pelo nosso desespero pelo nosso desamparo pelo nosso comodismo Se não tem em quem votar vota mesmo assim a gente é obrigado ganha cesta básica e só dá um voto pra quem passa fome por que não? Se não tem em quem votar vota mesmo assim a gente é obrigado é iludido com promessas discursos bonitos porque é analfabeto de pai e de mãe e de avô e de avó e de cultura e consciência Se não tem em quem votar vota mesmo assim a gente é obrigado não pelo Estado mas pelo dever de tentar por ainda acreditar que temos o poder que podemos mudar Não tá certo a gente sabe a gente vê mas "Fazer o quê?"

segunda-feira, 14 de abril de 2014

"Vamo repartí direito, uma pá mim ôtra pá tu"

É saudade da risada gostosa, alta e cantada com aquele sorriso que se estampava a alma de todo mundo por perto. Saudade de ver aqueles dedinhos no umbigo, o outro braço levantado, o reboladinho e rodopios mais gostosos que o baião de Gonzagão já viu. Saudade dos assobios fortes e finos, que pareciam sem fim. A maestria da língua do "P" que me desafiava a capacidade de soletrar. O cheiro da galinha na panela e o sabor do pirão que não se acha mais. Saudade de ver aquela fé gigante em forma de gente, sorrindo até mesmo quando qualquer um choraria. Aquela cabeleira tão branca e tão fofa e tão sábia e esperta. Perspicácia que somente a vida bem vivida pode dar. A força de vontade que não passa, não cessa diante de obstáculos, a coragem que não tem medida. Saudade dos braços curtinhos, batendo palmas na frente do corpo. Daquele abraço baixinho, que se encaixava em mim e sempre brincava: "tá baxinha, hein! eu sou grandón!". Aquela risada contida em som, mas que brilhava no rosto e nos olhos. E não tinha como: a gente ria junto. Saudade de tudo o que se fazia errado, mas que era certo lá no fundo. Das tardes de frutas, risadas, descobertas e invenções. São tantas saudades em mim que nem sei se cabe mais. Mas não deixo de viver e de aproveitar. Não deixo de acumular essas memórias desses tempos tão bons. Não ignoro as pessoas boas que me marcam, que fazem parte de mim de algum modo. Não sei se vai caber mais saudade. Mas lembranças, sempre caberão.

terça-feira, 11 de março de 2014

Casa! Que saudade!

Vivo dizendo que minha infância foi linda e maravilhosa e AMO cada instante que tenho em minha memória. Isso porque meus pais são lindos, meus avós também, a década em que nasci foi linda também. Mas a casa... a construção, a estrutura... Ah, que saudade também! Moro agora numa gaiolinha de cinquenta metros quadrados. Não, a falta de espaço não é o que mais me causa saudade. É a interferência constante neste MEU espaço. É, é MEU. COMPRAMOS isso. Mas o síndico, o subsíndico, os conselheiros, os outros moradores têm tantas opiniões tão diversas que interferem. Saudade de resolvermos trocar uma maçaneta em casa, sairmos pra comprar e simplesmente trocarmos. Não, aqui não pode. Tem que ver se vai combinar com as outras do mesmo andar. Saudade de chegar em casa e conseguir guardar o carro na garagem sem precisar desviar de incoerentes que deixam carros minúsculos em vagas gigantes, ou de visitantes que usam as vagas de moradores. Ah, casa... Saudade de deixar bichinhos brincando no quintal; aqui, se levar pra andar no térreo, está ferindo o regulamento e correndo o risco de ser multada. Brincar de banho de mangueira no quintal nesses dias de calor era tão bom... Mas aqui, se sair da piscina, não pode molhar nenhum outro lugar, muito cuidado, vão te multar! Eu chamo de lar, porque existe muito amor aqui dentro, da porta pra dentro. Vivo com o homem mais lindo que poderia ter encontrado, temos nossos pais bem pertinho que nos visitam sempre, amigos (que são poucos, mas insubstituíveis) que nos visitam e alegram ainda mais nosso cantinho, temos um peludinho cheio de manhas que nos acalma. Chamo de lar porque o que é mais importante não está na construção do prédio. Mas que dá saudade de morar em casa... ah, isso dá!

quinta-feira, 6 de março de 2014

DESEN-CANA-VAI ! LEVANTA E ANDA!

Não temos educação suficiente. Não temos consciência suficiente. Não temos respeito suficiente. Não temos coerência suficiente. Qual das anteriores é verdadeira? Povo lindo, sorridente, de uma energia encantadora. Que não sabe protestar, tudo vira arruaça e balbúrdia. E os protestos que têm mesmo "cara" de protesto, acabam sendo esquecidos e substituídos por algo mais barulhento e menos eficiente. Povo lindo, sorridente, cativante sempre. Que não sabe votar. Que leva o filhinho e o netinho pra apertar "botão na maquininha" e solta um "ai, foi sem querer" pra explicar porque a criança "votou errado". Não foi a criança quem votou errado. Foi você. Povo simpático, cordial e hospitaleiro. Que faz das tripas magérrimas e sofridas um coração maquiado de euforia pelos jogos da Copa de Futebol. Acorda na fila infinita de um pronto socorro, deitado no chão, esperando por atendimento, mas morre de orgulho por ser sede da Copa. Povo ingênuo, povo indeciso, povo indefeso que bate no peito de orgulho de ser brasileiro. Vota nas mesmas caras há trinta anos e ainda acredita que, desta vez, eles vão mudar e fazer algo pelo povo. Povo ingênuo, tolo e enganado. Povo que reclama que não tem cultura e gasta o mísero salário em churrascadas e cervejadas aos finais de semana, sem ter coragem de quebrar paradigmas e ir a museus ou bibliotecas. Quantas peças de teatro existem por aqui que não têm público! Povo ingênuo, que gosta de esmola e agora se atola numa política que parece sem retorno. A política "das mãos estendidas". Do esmoléu. Acabou-se a dignidade. Acabou-se a felicidade de ser mãe, agora é um meio de vida. Acabou-se a força de vontade desse povo. Que poderia dominar o mundo. Se quisesse.

terça-feira, 14 de janeiro de 2014

O futuro que não foi

Acho que é muito "mimimi", colega. As pessoas estão dizendo que não podem ver imagens de santos, porque não acreditam em santos nem em imagens. As pessoas não podem conviver com pessoas com crenças diferentes, simplesmente porque as crenças são diferentes. Mas as crenças eram diferentes há vinte anos e as pessoas simplesmente se respeitavam. Não havia esse monte de "tribo", que briga por seu espaço. Havia respeito e consideração, porque quase ninguém batia na porta da minha casa num domingo de manhã pra tentar me fazer uma lavagem cerebral e me convencer de que estou no caminho errado, simplesmente porque meu caminho é diferente do deles. Acabar com a cultura, com o nosso folclore por conta de religião, seja ela qual for, é muito "mimimi", é muito preconceito, é muita falta de consideração para com absolutamente tudo: história, liberdade de expressão, liberdade de crença, respeito pelo próximo e por aí vai. Mas acho que o pior, é que estão se esquecendo mesmo é de Deus, Jeová, ou seja lá o nome que se queira dar pra essa força maior que nos guia a todos. As pessoas estão se atacando, se segregando, se desrespeitando e se perdendo por causa de um monte de coisas que um pastor (que é um ser humano, portanto, não é perfeito) diz e elas tomam como verdade plena, absoluta e única. Me entristeço quando vejo amigos meus sendo "engolidos" pelas "religiões". Me entristeço quando noto essas nossas perdas de cultura e de folclore porque não se pode mais expor nada, pra não ofender o outro. Esse monte de "mimimi" está criando um monte de tribos intolerantes e incoerentes. Depois da década da globalização, estamos vivendo na década da "tribalização" e, infelizmente, isso não está me parecendo muito positivo. Parece mesmo que regredimos. Todo mundo sai às ruas clamando por igualdade e tolerância, mas estão todos mais intolerantes. Me choco, realmente, com reações de aversão gratuita, baseadas simplesmente em "tribos diferentes" da minha. Achei muito legal a globalização, com um monte de informações e culturas diferentes. Mas parece que não temos maturidade suficiente pra lidar com esse monte de informação e estamos utilizando da pior maneira possível. Não estou dizendo que há vinte anos vivíamos no paraíso, colega. Mas posso dizer que era um mar de rosas sim, porque tinha seus espinhos. Mas pode ter sido o julgamento dos meus olhares adolescentes, talvez. Não vi a moda faroeste do "olho por olho, dente por dente" tão presente lá naqueles tempos quanto vejo agora. Ou... pode ser que eu tenha sonhado, naqueles tempos, que o tempo de agora seria muito melhor e fico sentindo falta do que não foi.

quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

Novo Ano Novo Ano. Novo!

Feliz Ano Novo!!! Uhuuuuuuuuuuuuu! Empolgação! Tudo novo! Energia renovada! Esperança! Vontade redobrada! A gente começa o ano assim, né? Mas o que é que a gente faz de realmente novo? Hoje, o segundo dia do ano. O que foi que eu fiz de novo? De novo? De novo! Faxina. A primeira do ano. Mas pra mudar, resolvi usar luvas. Essas de látex amarelinhas, pra proteger as mãos dos produtos químicos. E é engraçado. Limpei chão, vidros, banheiro... tudo usando luvas. Minhas mãos não estão enrugadas pela água, mas as pontas dos meus dedos ficaram um tanto sensíveis com o "roça-roça" no látex das luvas. E é isso, gente. Fazer coisas diferentes. Pra mudar nossa perspectiva. Pra mudar nossos sentidos. Pra descobrirmos nossas reações. Pra nos protegermos e nos fortalecermos. Vamos fazer coisas diferentes pra que nossa mente não se acostume com nada. Pra que sejamos contestadores, sim! Vamos aprender, aprender, aprender! E a gente não aprende só em escolas e cursos. A gente aprende quando abaixa a cabeça e agradece ao Pai pelo dia que teve. A gente aprende quando se cala e ouve o amigo que está precisando falar e nem sabia. A gente aprende quando a gente fala incessantemente com alguém estranho e que talvez, nunca mais encontraremos nesta vida. A gente aprende quando muda o canal da televisão. Ou quando a gente desliga a TV e vai ler um livro, vai tentar tocar violão, vai tentar escrever uma poesia. A gente aprende quando resolve fazer um assado e nem sabe descongelar a comida. A gente aprende quando cumprimenta o porteiro e quando a gente percebe que não precisa de um batalhão de amigos, porque amigo de verdade, a gente tem pouco. Vamos fazer alguma coisa diferente. Uma coisa diferente todo dia. Comer num restaurante diferente. Ir a um teatro que nunca visitamos. Vamos ajudar quem a gente não conhece, vamos falar "não" pra quem a gente conhece. Vamos fazer diferente, porque a gente aprende.