quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

Cuidado

Quando a gente se doa demais, corre o risco de se anular. Quando a gente sempre está presente, quando basta um telefonema e já vamos correndo ajudar, quando estamos sempre dispostos, a gente corre o risco de se anular. Quando o outro é mais importante do que nós mesmos, quando amamos tanto o outro que nos esquecemos de nós, a gente corre o risco de se anular. E quando a gente percebe isso? Normalmente, quando já passou muito tempo. Então, a gente começa a tentar retomar nossa vida, nossas vontades, nossos sonhos, nossos desejos. E as outras partes, as outras pessoas que sempre nos tiveram tão dispostos, tão prontos a ajudar, começam a ouvir os nossos “nãos” e nossas verdadeiras opiniões. Começamos então, a ouvir coisas como “nossa, você não era assim”, “como você mudou”, “eu te fiz alguma coisa?”. Porque quando a gente se anula, a gente não se anula só pra gente. A gente se anula perante o outro também. O outro não nos enxerga, porque não nos valorizamos, não nos atemos às nossas necessidades e vontade. Quando a gente se anula, o outro não sabe que existimos, não considera nossos sentimentos, apenas nos usa. Mas quando damos nossas caras, quando nos defendemos e agimos por nós mesmos, o outro lado, o lado que sempre teve tudo o que quis, se incomoda. E o incômodo indica que, na verdade, o outro nunca enxergou quem somos, só enxergou o que podíamos oferecer. Quando a gente se anula, de forma sistêmica, regular, permanente, a gente é usado, de forma sistêmica, regular e permanente.