domingo, 26 de dezembro de 2010

O Maior Mandamento

"Tratai todos os homens, como quereríeis que eles vos tratassem." - Lucas, VI:31

Isto destrói o egoísmo.
Isto destrói a prioridade enganosa do "eu" antes do "você".
Isto fica melhor ainda, muito mais puro, muito mais sincero, quando é impensado.
Quando é instantâneo.
Quando é natural.
Quando o "outro", quando o "próximo" é sentido.
Agir assim é respeitar.
É considerar realmente que somos todos especiais.
A hipocrisia da atualidade de pessoas que sonegam impostos e fazem doações para terem abatimentos...
A hipocrisia de pessoas que desrespeitam o próximo em todas oportunidades que existem, mas acreditam que num determinado dia da semana, por estarem com a Bíblia debaixo do braço, são melhores do que outras.
A falta de respeito à privacidade e às escolhas quando não se sabe o que fez com que cada pessoa escolhesse o caminho que escolheu.
Tratar o próximo como gostaríamos de ser tratados, nada mais é do que pensar antes de agir. Considerar nossas ações. Considerar os reflexos delas em nós e naqueles que nos rodeiam.
Morar aqui ou alí, torcer para este ou para aquele time, ter esta ou aquela religião... não importa.
Estamos todos no mesmo barco.
Façamos valer o Maior Mandamento que há!

sábado, 6 de novembro de 2010

Monteiro Lobato - Nota da ABL

A imprensa divulgou esta semana que a Câmara de Educação Básica do Conselho Nacional de Educação do MEC aprovou um parecer aconselhando o banimento de uma obra de Monteiro Lobato nas escolas do Distrito Federal.

A noticia parece tão absurda que nem se pode acreditar que seja verdadeira. No mínimo, deve estar descontextualizada. E toda leitura deve ir além do texto, buscando também o contexto. Essa é a boa maneira de ler . Assim é que qualquer obra literária deve ser lida — inclusive a de Monteiro Lobato. Sobretudo nas escolas.

Somos contra qualquer forma de veto ou censura à criação artística. Consideramos que uma cultura não pode se tecer com as linhas dos melindres e ressentimentos. Isso a empobrece, em vez de enriquecê-la.

Cabe ao professor orientar os alunos no desenvolvimento de uma leitura crítica. Isso não significa concordar com tudo o que o autor escreveu ou que uma época passada considerava. Pelo contrário, implica fazer uma viagem a esse tempo e tentar compreendê-lo, sem com isso deixar de discordar. Supõe manter a capacidade de dialogar com a obra, distinguindo nela o que não se aprova e o que desperta identificação — características que variam de um leitor para outro, aliás.

Um bom leitor de Monteiro Lobato sabe que tia Nastácia encarna a divindade criadora, dentro do sítio do Picapau Amarelo. Ela é quem cria Emília, de uns trapos. Ela é quem cria o Visconde, de uma espiga de milho. Ela é quem cria João Faz-de-conta, de um pedaço de pau. Ela é quem “cura” os personagens com suas costuras ou remendos. Ela é quem conta as histórias tradicionais, quem faz os bolinhos. Ela é a escolhida para ficar no céu com São Jorge. Se há quem se refira a ela como ex-escrava e negra, é porque essa era a cor dela e essa era a realidade dos afrodescendentes no Brasil dessa época. Não é um insulto, é a triste constatação de uma vergonhosa realidade histórica.

Em vez de proibir as crianças de saber disso, seria muito melhor que os responsáveis pela educação estimulassem uma leitura crítica por parte dos alunos. Mostrassem como nascem e se constroem preconceitos, se acharem que é o caso. Sugerissem que se pesquise a herança dessas atitudes na sociedade contemporânea, se quiserem. Propusessem que se analise a legislação que busca coibir tais práticas. Ou o que mais a criatividade pedagógica indicar.

Mas para tal, é necessário que os professores e os formuladores de políticas educacionais tenham lido a obra infantil de Lobato e estejam familiarizados com ela. Então saberiam que esses livros são motivo de orgulho para uma cultura. E que muito poucos personagens de livros infantis pelo mundo afora são dotados da irreverência de Emilia ou de sua independência de pensamento. Raros autores estimulam tanto os leitores a pensar por conta própria quanto Lobato, inclusive para discordar dele. Dispensá-lo sumariamente é um desperdício.

A obra de Monteiro Lobato, em sua Integridade, faz parte do patrimônio cultural brasileiro. Portanto, sugerimos que o plenário se manifeste, apelando ao senhor Ministro da Educação no sentido de que se respeite o direito de todo cidadão a esse legado, e que vete a entrada em vigor dessa recomendação.

Nota da Academia Brasileira de Letras, aprovada pelo presidente Marcos Vinicios Vilaça

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Irmãos... por que tê-los?

Irmãos... por que os temos?
Na verdade, eu não tenho irmãos.
Tenho um.
Este aqui do lado.
Dois anos mais novo do que eu.
Mas o que foi que Deus quis que eu aprendesse quando nos permitiu ser irmãos?
Não tenho a menor idéia.
Não mesmo.
Ele ama tudo o que se parece com pagode e forró, e eu não suporto gente que não sabe cantar e só tem bunda pra mostrar.
Ele não suporta estudar e eu sou quase viciada nisso.
Ele não se importa se tudo o que tiver for uma mochila, um par de tênis, comida e boa conversa.
E é aí que eu começo a aprender.
Eu sempre quero mais. Sou grata por tudo que Deus me oferta, mas sempre acho que dá pra melhorar, que posso fazer melhor. Mas será que tudo o que eu preciso não é exatamente o que tenho?
Ele só precisa de uma mochila pra correr o mundo.
Eu preciso da mochila, de uma bússola, de uma câmera fotográfica, de amigos pra quem mandar as fotos, da certeza de que meus pais ficarão bem sem minha presença.
Aprendi a carregar bem menos peso em minha mochila com ele. Só o básico pra minha felicidade.
Se ele não se importa em dar um telefonema, não é por falta de carinho ou desconsideração.
É simplesmente porque ele está tão feliz, tão pleno, que isso nem sequer passa na cabeça dele.
Se ele tem amigos que dormem debaixo de viadutos e eu não, é porque eu não me permito a humildade de pessoas que não necessariamente são "nocivas" somente porque não têm um teto.
Ele dá oportunidades a todos, eu não. Eu acho que posso selecionar a quem vou amar.
Deus deve saber quantas amizades já deixei de ganhar por causa disso.
Ele não vê família como a instituição que vemos.
Família pra ele é simplesmente um porto seguro. Um "box" onde ele pára pra trocar os pneus, reabastecer e sair correndo o mundo de novo.
Ah, mas isto, isto eu não quero aprender.
Porque este é o amor mais complexo que pode existir. É uma linha tão tênue, tão frágil entre o amor e o ódio no amor de família, que não posso deixar de amar o desafio que é amar a família.
Não sei exatamente porque tenho o irmão que tenho.
Mas sou grata porque, apesar dele ser caçula, me ensina muito mais do que ele sequer imaginou.
E serei grata também se puderem me avisar caso o vejam em algum lugar, algum dia... porque ele saiu pra rodar o mundo de novo e não se lembrou da família.
Não sabemos onde ele pode estar desde o dia 02.09, não temos notícia e não sabemos se está bem.
Caso pensem em me julgar por estar procurando por ele, estejam à vontade, mas lembrem-se que faço isso porque o amor mais complexo que pode existir é o amor de família. E eu o amo.
Amo a vocês também e é por isso que arrisco contar com um tempinho de vocês pra ler esta e serem meus olhos por lugares em que somente vocês caminham.
Não sei porque tenho o Henrique como irmão e, por sermos tão diferentes, amo ser irmã dele.

domingo, 29 de agosto de 2010

Corinthians em casa!



Tudo começou há alguns meses.
Sabesp consertando encanamentos.
COMGAS fazendo instalações na região.
Prefeitura colaborando e asfaltando rapidamente tudo o que as duas estavam destruindo.
Começou ali no meio da Cohab.
Vieram subindo.
Destruíram uma rua. Faziam a obra necessária. Fechavam. E davam continuidade ao projeto.
Até que chegaram à rua da casa onde moramos.
Começaram lá na ponta da rua.
E ficamos receosos de que chegassem à frente da nossa casa, pois as obras não são rápidas.
Duram semanas, meses até, sem asfalto, sem possibilidade de tirar o carro da garagem, com barulho de caminhão e homens trabalhando o dia todo.
Daí, começou uma movimentação na pedreira, alí na ponta da rua, onde estava toda a bagunça causada pela Sabesp.
Cortaram todos os eucaliptos dali.
Com isso, começaram os boatos: "vai ser FATEC", "vai ser FEBEM", "vai ser outro shopping," "vai ser nada".
Boato é assim.
Um operário da obra fala uma coisa, a dona de casa e o bêbado da rua entendem outra, espalham outra e o telefone sem fio cuida do resto.
Ninguém sabia de nada ao certo e continuamos receosos do que quer que fosse acabar com nossa paz, nessa rua calma, o nosso cantinho.
Agora é isso aí.
É oficial.
Está nos telejornais.
O Corinthians vai construir um novo estádio no terreno deles, que fica ali, na ponta da rua.
E existe até a possibilidade de que este estádio seja o da abertura da Copa.
Pois bem.
FATEC, FEBEM, shopping... nada é mais assustador do que jogos do Corinthians tão próximos de casa.
E pra quem não acredita, por favor, usem a imagem dessa postagem pra me convencer também, pois não estou acreditando.

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Conversinha

Tem conversinha que é "inha" porque não tem nada.
Nem de mais, nem de menos.
Tem conversinha que é "inha" porque é de pé de ouvido.
Daquelas que são segredos compartilhados.
Tem conversinha que é "inha" porque é no final da tarde.
Na varanda, com quem se ama.
Tem conversinha que é "inha" porque é tão aconchegante que só pra dizer diminutivo.
Tem conversinha que é "inha" porque é uma peninha que não dure por mais tempo.
Tem conversinha de tudo quanto é jeito, mas nada como aquelas que nos deixam com vontade de que tudo fosse "inha".

terça-feira, 9 de março de 2010

No Futuro


Estamos no futuro.
Os carros podem voar.
E a gente ainda não consegue nem distribuir coerentemente toda a comida produzida no planeta.
Vou repetir a frase: "os carros podem voar".
É isso mesmo.
Tenho a impressão de que aprenderam sozinhos a fazer isso.
Nem sempre consigo aceitar que pessoas tão capazes, sejam tão incapazes!
Mas é isso.
Isso é o futuro com o qual me choquei quando era criança, assisti e entendi aquele filme com a Tina Turner e o Mel Gibson: "Mad Max".
Temos tanto e nos permitimos tão pouco!
Somos capazes de tanto e nos conformamos com tão pouco!
Os carros já podem voar, os seres já podem ser clonados... e daí... e nós?