segunda-feira, 14 de abril de 2014

"Vamo repartí direito, uma pá mim ôtra pá tu"

É saudade da risada gostosa, alta e cantada com aquele sorriso que se estampava a alma de todo mundo por perto. Saudade de ver aqueles dedinhos no umbigo, o outro braço levantado, o reboladinho e rodopios mais gostosos que o baião de Gonzagão já viu. Saudade dos assobios fortes e finos, que pareciam sem fim. A maestria da língua do "P" que me desafiava a capacidade de soletrar. O cheiro da galinha na panela e o sabor do pirão que não se acha mais. Saudade de ver aquela fé gigante em forma de gente, sorrindo até mesmo quando qualquer um choraria. Aquela cabeleira tão branca e tão fofa e tão sábia e esperta. Perspicácia que somente a vida bem vivida pode dar. A força de vontade que não passa, não cessa diante de obstáculos, a coragem que não tem medida. Saudade dos braços curtinhos, batendo palmas na frente do corpo. Daquele abraço baixinho, que se encaixava em mim e sempre brincava: "tá baxinha, hein! eu sou grandón!". Aquela risada contida em som, mas que brilhava no rosto e nos olhos. E não tinha como: a gente ria junto. Saudade de tudo o que se fazia errado, mas que era certo lá no fundo. Das tardes de frutas, risadas, descobertas e invenções. São tantas saudades em mim que nem sei se cabe mais. Mas não deixo de viver e de aproveitar. Não deixo de acumular essas memórias desses tempos tão bons. Não ignoro as pessoas boas que me marcam, que fazem parte de mim de algum modo. Não sei se vai caber mais saudade. Mas lembranças, sempre caberão.